Somos ou Estamos felizes?

Invariavelmente surge esta pergunta: a felicidade é uma característica natural de algumas pessoas ou um estado temporário pelo qual todos passamos?

Muito se tem falado nos últimos anos em Felicidade. Não é novidade que um dos propósitos maiores do Ser Humano é ter uma vida digna e feliz. Desde a antiguidade a felicidade é tratada por pensadores e filósofos nas mais variadas partes do mundo. Desde filósofos gregos como Tales de Mileto (a quem se atribui os primeiros registros sobre o tema) para quem ser feliz é ter “corpo são e forte, boa sorte e alma bem formada”, passando por Sócrates e Platão cuja “virtude e justiça” eram as qualidades esperadas de um homem feliz. Sem deixar de destacar Epicuro para quem um homem feliz é aquele que vive de forma simples e prazerosa ou Aristóteles para quem, além da virtude e justiça, o homem precisa de “boa saúde, liberdade e condição socioeconômica”.

Hoje, a neurociência tem ajudado a entender o que acontece em nosso cérebro quando vivemos determinadas emoções e de que modo isso afeta o nosso bem-estar. Enfim, como podem ver, temos muito a tratar nos próximos artigos sobre Felicidade. A intenção desta série de artigos é ampliar o conhecimento do leitor trazendo os principais achados da ciência a respeito do tema.

“Pessoas felizes relatam maior frequência de emoções positivas, mas não maior intensidade” (Diener, 2000)

Uma das perguntas que tem intrigado pessoas com as quais converso é: “somos ou estamos” felizes? São várias as justificativas ou interpretações que podem ser dadas como resposta a esta pergunta. A que trago aqui é fruto de minha interpretação e, é claro, baseada no que aprendi nestes últimos anos investigando o assunto.

Ao responder que “Estamos felizes”, tem-se a ideia de um estado temporário, de algo que passa. A ciência pode explicar este estado temporário como possíveis alterações de humor ao longo do dia ou das situações. Também pode ser associado ao temperamento que possuímos ou herdamos e que são determinantes da forma como percebemos, processamos, interpretamos e reagimos ao mundo à nossa volta.

“Estar feliz” é frequentemente confundido com sentimentos de alegria, contentamento, etc.., que vão e voltam e que, geralmente são consequências de nossas interpretações sobre o mundo à nossa volta.

Estes sentimentos que traduzem o prazer com algo ou alguém, são normalmente relacionados ao que chamamos de felicidade hedônica. Esta sensação prazerosa faz, normalmente, que queiramos repeti-la. Algumas pessoas para obter este comportamento prazeroso usam de ‘artifícios’ para ter esta mesma sensação, seja através de compras, do uso de drogas (lícitas ou ilícitas), seja pela convivência com pessoas que nos fazem bem ou até na participação em eventos que nos trouxeram estas boas sensações (festas em família ou com amigos, etc..). Estar feliz, olhando sob este viés, tem este caráter temporário.

Quando falamos em “Ser felizes”, estamos nos referindo a um estado mais perene, equilibrado e, por que não dizer: “permanente” de felicidade. A literatura relaciona este estado a uma Felicidade chamada Eudaimônica. Em que a vida é encarada como tendo um propósito ou significado maior. Em que, como afirmava Aristóteles um indivíduo feliz é aquele que vê significado em sua vida e a conduz pela virtude e justiça. A felicidade eudaimônica é, portanto, a meu ver, fruto de reflexão sobre a vida. Pressupõe a aceitação e reconhecimento de nossas virtudes e defeitos e, o controle “até onde conseguimos” de nossas emoções. Pressupõe também, avaliarmos o grau de exigência que temos para com o mundo e conosco mesmos.

Mas, afinal “Somos ou Estamos” felizes? Os dois estados são reais. A interpretação e o propósito que buscamos em nossas vidas, ou em determinados estágios de vida pelos quais passamos são determinantes para que cada um avalie seu estado atual e responda por si mesmo. Espero que este texto o ajude a refletir sobre se você é ou está feliz com o momento atual de sua vida.